Uma
comédia bucólica. Uma pastoral nostálgica. Ou como Kinuyo Tanaka transforma o
universo familiar, denso, “interior de portas”, teatral e nostálgico de Yasujiro
Ozu numa paisagem extrema, em plena paisagem. Afinal, Ozu é um dos
argumentistas, talvez mentor. Um argumento muito fino que praticamente modela a
própria comédia, toldando-lhe os contornos de recomeço com a névoa sumptuosa do
fim inexorável. A cena final (e a presença do inesquecível Chishu Ryu interpretando
o benévolo pai, uma das outras almas de Ozu) assim dita o tema maior do
realizador.
Contudo,
existe uma alegria sem fim na fotografia, na luz e contraluz, nas sombras da
floresta, da casa, do templo, no conluio feliz que a filha mais nova, Setsuko (Mie
Kitahara), prepara com o seu proto-namorado, amigo da família, Yasui (Shoji
Yasui), tentando a reaproximação da sua irmã Ayako (Yoko Sugi) a um velho
conhecido seu e antigo colega de Yasui, Amamiya (Ko Mishima). Uma artimanha que
necessita permanentemente da cumplicidade da criada Yoneya, a própria Kinuyo
Tanaka. Tudo tem de ser meticulosamente calculado para que a lua ascenda, o
luar seja magnífico e o amor, abençoado. Aqui espreita a alma de Shakespeare.
Existe
uma promessa de felicidade, mas ela está sempre velada pelo espectro da guerra
finda, do desemprego, também da tradição familiar.
Um
filme muito belo onde a poesia codifica realmente o desenlace da intriga,
envolvendo com secreto entusiasmo toda a família.
Um
filme que é a definição do próprio código poético.
jef,
julho 2025
«A
Lua Ascendeu» (Tsuki wa noborinu / The Moon Has Risen) de Kinuyo Tanaka. Com Chishu
Ryu, Shuji Sano, Hisako Yamane, Yoko Sugi, Mie Kitahara, Ko Mishima, Shoji
Yasui, Kinuyo Tanaka, Junji Masuda, Miki Odagiri, Hiroshi Shiomi. Argumento: Yasujiro
Ozu, Ryosuke Saito. Produção: Eisei
Koi. Fotografia: Shigeyoshi Mine. Música: Takanobu Saitô. Japão, 1955, P/B, 99
min.