quarta-feira, 9 de julho de 2025

Sobre o filme «A Lua Ascendeu» de Kinuyo Tanaka, 1955



 




















Uma comédia bucólica. Uma pastoral nostálgica. Ou como Kinuyo Tanaka transforma o universo familiar, denso, “interior de portas”, teatral e nostálgico de Yasujiro Ozu numa paisagem extrema, em plena paisagem. Afinal, Ozu é um dos argumentistas, talvez mentor. Um argumento muito fino que praticamente modela a própria comédia, toldando-lhe os contornos de recomeço com a névoa sumptuosa do fim inexorável. A cena final (e a presença do inesquecível Chishu Ryu interpretando o benévolo pai, uma das outras almas de Ozu) assim dita o tema maior do realizador.

Contudo, existe uma alegria sem fim na fotografia, na luz e contraluz, nas sombras da floresta, da casa, do templo, no conluio feliz que a filha mais nova, Setsuko (Mie Kitahara), prepara com o seu proto-namorado, amigo da família, Yasui (Shoji Yasui), tentando a reaproximação da sua irmã Ayako (Yoko Sugi) a um velho conhecido seu e antigo colega de Yasui, Amamiya (Ko Mishima). Uma artimanha que necessita permanentemente da cumplicidade da criada Yoneya, a própria Kinuyo Tanaka. Tudo tem de ser meticulosamente calculado para que a lua ascenda, o luar seja magnífico e o amor, abençoado. Aqui espreita a alma de Shakespeare.

Existe uma promessa de felicidade, mas ela está sempre velada pelo espectro da guerra finda, do desemprego, também da tradição familiar.

Um filme muito belo onde a poesia codifica realmente o desenlace da intriga, envolvendo com secreto entusiasmo toda a família.

Um filme que é a definição do próprio código poético.

 

jef, julho 2025

«A Lua Ascendeu» (Tsuki wa noborinu / The Moon Has Risen) de Kinuyo Tanaka. Com Chishu Ryu, Shuji Sano, Hisako Yamane, Yoko Sugi, Mie Kitahara, Ko Mishima, Shoji Yasui, Kinuyo Tanaka, Junji Masuda, Miki Odagiri, Hiroshi Shiomi. Argumento: Yasujiro Ozu, Ryosuke Saito. Produção: Eisei Koi. Fotografia: Shigeyoshi Mine. Música: Takanobu Saitô. Japão, 1955, P/B, 99 min.

domingo, 6 de julho de 2025

Sobre o disco «More.» de Pulp, 2025, Rough Trade


 

Devo dizer que na segunda metade dos anos 90 do século que passou, os meus ouvidos foram educados de modo sistemático pela hard-pop de «Different Class» dos Pulp (Island, 1995) e pela pop-sinfónica dos The Divine Comedy «Casanova» (Setanta, 1996). Quase um vício.

Trinta anos depois, Jarvis Cocker e a sua trupe de pop-rock circense aparece para negar tudo o que dizia em “Common People”, “Underwear” ou “Disco 2000”. Nega-o mas afirma tudo de novo. Afinal, podemos agora ouvi-lo cantar em “Got to Have Love”:

“Without love you’re just making a fool of yourself

 Without love  you’re just jerking off inside someone else”

Afinal, ainda podemos ter esperança. Podemos voltar a ser crianças em busca de sermos adultos e adultos a exigir ‘demência infantil’, esquecer as fábricas que fecham, esquecer essa coisa de crescermos em torno da puberdade e acender as velas de todos os aniversários ao mesmo tempo. Jarvis Cocker canta que ainda vamos a tempo de esquecer tudo, relembrar tudo e seguir em frente e ainda por cima, sorrir.

30 anos depois «More.» parece não se esquecer de que sou fã (incondicional) do veneziano «Casanoca» dos Divine Comedy, regressando para minha memória com uma ópera ultra-pop orquestral, sinfónica, coral. Dançável e reflectida, entre Burt Bacharach e Angelo Badalamenti, a lembrar a canção falada de Leonard Cohen, a infalível dança coral de David Byrne, a história sem fim de Ziggy Stardust…

Enfim, será que gostamos porque algum dia já gostámos. Talvez seja o crédito ou o defeito da memória de longo termo… Pouco me importa, ouço «More.» com o entusiasmo de hoje sem beliscar o papel de parede da pop britânica de há três décadas atrás. E é óptimo.


jef, julho 2025

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Sobre o filme «A Vida Luminosa» de João Rosas, 2025



 






























Reconhecer Lisboa pelos passos que o cinema nos concede. Reais e falsos ao mesmo tempo. Tão banais e quotidianos quanto literários. A vida é assim: melancolicamente luminosa.

A primeira longa metragem de João Rosas é uma espécie de achado. E não resisto a confessar, meio envergonhado, que a frase me surgiu ao ver o filme começar com o coro da Casa da Achada a cantar em polifonia “a única certeza que temos é a consabida e permanente dúvida”. Um arco longo onde a câmara vai mostrando cada cantor até se fixar em Nicolau (Francisco Melo). Todo o filme se desenvolve como esta cena, parcimonioso mas convicto, mostrando cada rua da cidade como habitat ou residência de um grupo de jovens que circulam contidos como as moléculas num frasco de gás que se deixou em repouso. As dúvidas, os receios, os temores e os leves dramas são como uma sugestão de uma irónica visão do futuro. Tudo pode correr mal mas o final do dia pode sempre trazer uma molécula de esperança.

Nicolau faz 24 anos mas não comemora. Vive na ressaca do abandono da namorada que partiu para um longínquo retiro espiritual, Nicolau aguarda qualquer coisa até a sua bicicleta avariar, até sair de casa dos pais para um quarto alugado, até aceitar um emprego numa livraria de bairro onde um personagem cliente-residente, o próprio realizador João Rosas, é convidado a abandonar os filmes para se dedicar à literatura, coisa para a qual terá bastante  mais talento. Quem o diz é alguém que esclarece o paradigma nefasto do capitalismo. Nicolau faz publicidade à livraria na rua vestido de Pai Natal, em plena Primavera. Na Cinemateca, entre a égide de Joseph Von Stroheim ou Robert Bresson, ele senta-se ao lado de uma réplica da antiga namorada. Mas é com Chloé (Cécile Matignon) que ele reencontra o espaço erigido para encerrar os mortos e o tempo que para estes terminou. Nicolau passa a sonhar com cemitérios.

Em entrevista, João Rosas cita todos aqueles cineastas que fazem filmes a partir de nada, a partir dessa existência que tem tanto de comédia como de nostálgica finitude. A vida, afinal, quando damos por ela, olha, já lá vai. Inevitável é citar as comédias e provérbios de Éric Rohmer, o país nova-iorquino de Woody Allen, o círculo eternamente político e palavroso de Nanni Moretti, a cidade castelhana onde nada acontece de Fernando Trueba, os monótonos dias seguintes e teatrais do sul-coreano Hong Sang-soo. Afinal, a vida é igual em todo o planeta. Todos eles (João Rosas incluído) fazem aquela proeza de nos levar atrás de coisa aparentemente nenhuma e, por fim, quando termina o filme, dizem: estão a ver, eu não vos disse, afinal a felicidade é tão honesta e comum como a infelicidade ou a depressão, vale a pena filmá-la.

Vale a pena também vivê-la, apesar de, na sua grande parte, não lhe encontrarmos grande drama ou paixão substancial.

Apesar de tudo haverá sempre tempo para o cinema e para a literatura.


jef, junho 2025

«A Vida Luminosa» de João Rosas. Com Francisco Melo, Cécile Matignon, Margarida Dias, Federica Balbi, Gemma Tria, Ângela Ramos, Francisca Alarcão. Argumento: João Rosas. Produção: Pedro Borges, Midas Filmes. Fotografia: Paulo Menezes. Som Olivier Blanc. Guarda-roupa: Susana Moura. Portugal / França, 2025, Cores, 106 min.

domingo, 29 de junho de 2025

Sobre o livro «Desconhecido Nesta Morada» de Kathrine Kressmann Taylor, Livros do Brasil, Colecção Dois Mundos, 2025 (1938). Tradução e prefácio de José Lima.



 








Uma pequena grande novela dos tempos que foram para os tempos que estão.

Uma reedição a demonstrar a perspicácia editorial dos Livros do Brasil. Uma autêntica pérola que esperemos não venha a ser de novo premonitória de odiosos tempos futuros, de regresso tenebrosamente incompreensível.

A escritora americana Kathrine Kressmann Taylor publica em 1938, dois anos depois de um certo Congresso de Nuremberga e no ano em que ocorreu a “Noite de Cristal”, a curta ficção «Desconhecido Nesta Morada» tão eficaz quanto visionária, e que nos devolve o estupor e a ansiedade do crescimento do nazismo após a grande depressão na Alemanha.

Tal como Bram Stoker em «Drácula» (1897), Kathrine Kressmann Taylor usa o modo epistolar para nos contar a história de dois amigos íntimos, sócios de uma galeria de arte em São Francisco, Martin Schulse e Max Eisenstein, quando o primeiro decide regressar à Alemanha natal nos finais de 1932.

O romance termina de modo gráfico a 18 de março de 1934. Adressat Unbekannt Desconhecido nesta morada.

Curioso o facto de eu ter lido há pouco tempo, de modo acidental, o romance de Georges Simenon «Os Três Crimes dos Meus Amigos», publicado inicialmente também em 1938, que nos coloca igualmente frente à depressão económica e política ocorrida na Europa entre as guerras.

Em «Desconhecido Nesta Morada» não existe julgamento moral superiormente omnisciente. Apenas nos podemos agarrar aos factos descritos nas cartas trocadas pelos correspondentes. Apenas, temos acesso factual ao desmoronamento de uma relação. Apenas assistimos, sem adjectivos ou advérbios de modo atenuantes, à progressiva transformação política e social de Martin Schulse e, em simultâneo, ao crescente desespero e posterior raiva distante do judeu americano Max Eisenstein.

O posfácio do filho da autora, Charles Douglas Taylor, esclarece e oferece-nos talvez uma pequena centelha de esperança no que respeita ao ódio e à violência políticas contemporâneas, ao descrever o sucesso que estas cartas têm tido a nível universal ao longo das décadas. O regresso oficial da estupidez mundial e do horror nazi pode ainda não consistir numa brutal inevitabilidade presente e futura.


jef, junho 2025

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Sobre o livro «Boneca que Mata» de John Creasey, Romano Torres, Colecção Grandes Mistérios n.º 140, 1966 (1959). Tradução de Aurora Rodrigues (Dora).



 







Ir de férias e encontrar numa certa prateleira com algum pó, algumas teias sem aranhas, encostado a outros tantos de lombadas esbranquiçadas pelo Sol de décadas, um livro policial (sempre de bolso), daqueles publicados para serem comprados no quiosque das estações com a finalidade de nos levarem pelos carris do comboio, sem que deles déssemos conta. Letra pequena, papel que amarelecia. Histórias cuja intriga quase que adivinhamos, mas sempre mirabolante com as suas coincidências inverosímeis, heróis belos e incorruptíveis, jovens lindas e manipuláveis, polícias malandros, repórteres que se infiltram. A causa por vezes pouco importa, a linha corrida da intriga, essa sim!

O inglês John Creasey (1908 –1973), com centenas de livros publicados e mais de 20 pseudónimos, inventa essa personagem The Toff, o Honourable Richard Rollison, londrino, a morar em Gresham Terrace, e secundado por um mais que devoto mordomo, cozinheiro, mais que “olhos e ouvidos do rei”, principalmente substituto nas investigações, sabemos nós mais lá o quê, o Jolly.

O que é mesmo muito curioso neste romance é o facto da questão central ser a revolta ostensiva contra a imigração jamaicana para Londres (Inglaterra) e os meios ilegais que usam para os obrigarem ao repatriamento: o medo imposto através de objectos voodoo usados etnograficamente nas Índias Ocidentais. Para além, da importância da imprensa inglesa tabloide na interferência da investigação policial e na manipulação da opinião pública.

Quem diria que, quase 70 anos depois, iria ler um simples romance de comboio, com o mesmo ódio, a mesma irracionalidade bestial do ser humano que se passa actualmente mesmo aqui, nas nossas barbas, pelas nossas ruas, pela nossa Assembleia da República.

Claro que, no fim, Rollisson apresenta as boas razões para a imigração e a sua integração; desvenda todo o caso com a ajuda dos pugilistas de uma escola de bairro; usa um método inacreditavelmente subtil para aniquilar o criminoso, o falso repórter Fitzherbert, aliás Warren; a secretária linda e apaixonada Annabel Lee mostra-se arrependida pelo seu erro; e o mordomo Jolly irá certamente preparar uma chávena de chá preto, talvez Earl Grey, e todos ficarão contentes.

Adoro livros policiais!

 

jef, junho 2025

 

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Sobre o filme «Queer» de Luca Guadagnino, 2024





 



















Pelo que sugere, a obra de William S. Burroughs é interminada e interminável. Digamos inconclusiva, ou intransponível igualmente. Já com «O Festim Nu – Naked Lunch» (1991) assim parecia e o caso tinha a ver com David Cronenberg. Agora em «Queer», Luca Guadagnino, torna-se muito mais sério. Em três capítulos e um epílogo, temos um longo e enfadonho caminho onde o actor Daniel Craig (William Lee), (mas também o seu companheiro de estrada, Eugene Allerton, interpretado por Drew Starkey), tem de fazer o supremo esforço de manter a(s) personagem(ns) em estado de permanente desespero ébrio e tabágico, já para não falar da heroína. Tanto a William Lee como a Eugene Allerton não lhes é permitido sair do mesmo registo do princípio ao fim, entre o ócio negligente e a permanente procura e fuga ao desejo sexual. Talvez mesmo as mais verdadeiras, discretas e ao mesmo tempo expressionistas sejam mesmo as cenas de pulsão sexual. Tudo o resto parece surgir de um conjunto de tele-discos cuja banda sonora tem a sina de retirar o espectador do centro na sua exigida concentração cinéfila. Nirvana e New Order pelo meio de cenários da velha cidade mexicana dos anos 50 do século passado, parece um exagero ou mesmo, delírio anacrónico.

Por outro lado, para colocar um espectador no meio da história não é necessário contar-lhe tudo tim-tim por tim-tim. Nem será lícito tocar no ambiente de hotéis, quartos e corredores, espaços, adereços, decores e cores que só David Lynch pôde alguma vez oferecer-nos. Nem criar, entre a inteligência artificial e os efeitos especiais, cenários que são devidos ao mundo play-mobil de Wes Anderson. Ou cenários nocturnos, entrevistos pela janela, com reflexos de néons e ansiedade, que só se permitem exibir por Hitchcock. Terminando com um mundo alucinado de “penetrante carnificina” entre Lee e Gen que também devia pagar crédito a David Cronenberg, volto a citá-lo.

Tudo para chegar à conclusão lógica de que o amor é finito e o desejo um passo talvez evitável para a morte que pelo que consta é eterna. Já para não falar de que, afinal, a telepatia não tem a mesma eficácia do tabaco, da tequila, da heroína e de todas as substâncias neuro-conectoras enterradas nas florestas tropicais a América do Sul.

Um verdadeiro desperdício de actores num acto de cinema com tiques de presunção voyeurista que vem de um determinado universo “queer” auto-complacente, egocêntrico”, hiperbólico, quase mórbido.


jef, junho 2025

«Queer» de Luca Guadagnino. Com Daniel Craig, Drew Starkey, Daan de Wit, Jason Schwartzman, Henrique Zaga, Colin Bates, Simon Rizzoni, Drew Droege, Ariel Schulman, Andra Ursuta, Lesley Manville, Lisandro Alonso, Michael Borremans. Argumento: Justin Kuritzkes segundo o romance de William S. Burroughs. Produção: Luca Guadagnino, Lorenzo Mieli, Jaun D. Bustamante. Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom. Música: Trent Reznor, Atticus Ross. Guarda-roupa: J.W. Anderson. EUA / Itália, 2024, Cores, 137 min.






terça-feira, 24 de junho de 2025

Sobre o livro «Os Três Crimes dos Meus Amigos» de Georges Simenon, Relógio D’Água, 2018 (1938). Tradução de Ângelo Ferreira de Sousa.



 







O que é espantoso no prolífero, imaginativo, desconstructor da narrativa clássica, Georges Simenon, um autor elogiado por Georges Steiner ou José Tolentino de Mendonça, é a sua capacidade de em curtos romances, quase novelas, oferecer-nos a plenitude de um mundo social, para não dizer político, centrado na circulação de personagens do seu próprio meio, sem nunca parecer dogmático ou presunçoso. Talvez a intrínseca capacidade para analisar cada situação através do humor, por mais trágica que possa ser, seja o seu trunfo dourado. Em segundo lugar, e não menos importante, é a leveza sintética da narrativa ou a imagética breve das descrições.

Dizem que não existem muitos modelos para construir um romance. Sequer a diversidade de temas. Mas se existe apenas um romance original, ele será o romance iniciático, aquele que nos mostra como alguém ou certo grupo se transforma desde a infância até à idade adulta passado pela adolescência e a puberdade. «Os Três Crimes dos Meus Amigos» é um bom exemplo disso. Tal como «O Obelisco Preto» (Erich Maria Remarque 1956), este texto conta-nos a história muito simples de como a infância não é suficiente para salvar alguém dos crimes que uma guerra deixa no interior de uma geração de adolescentes. Alguém de nome Simenon questiona-se sobre a razão de ter ele sobrevivido ao horror e, pelo contrário, os Dois Irmãos, o Pequeno K, o Fakir, Deblauwe ou até o mais velho e misterioso livreiro Hyacinthe Danse tenham sido varridos do mapa da moral existência, assim, sem mais, apesar de “tudo isto ser medonhamente banal”. Mas será que a respectiva sobrevivência inocentá-lo-á de culpa pelos crimes dos seus próximos amigos. É a dura premissa deste livro extraordinário.

Em pouco mais de 140 páginas ficamos com o firme odor, por vezes leve, por vezes execrável, das consequências da guerra nas relações pessoais, nos comportamentos sexuais, na descoberta cultural e filosófica, na desvalorização monetária, no descrédito das relações entre classes sociais. Como um pequeno tratado de História, onde no título e logo na primeira página o autor nos avisa da conclusão a que chegará o romance, ficamos com uma visão real das consequências bélicas entre fronteiras que unem a Bélgica, os Países Baixos, a França e a Alemanha (as notas de rodapé dão uma preciosa ajuda).

Liège está no centro, os crimes são logo anunciados, mas o coração do leitor afinal fica preso ao horror sistemático com que a guerra carimba definitivamente os jovens corações que a viveram.


jef, junho 2025

OSZAR »